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domingo, 16 de dezembro de 2012

VISITA INESPERADA

Teu verso me fez visita.
Repentino  repentista
me pegou de chinelão,
pijama, meia furada e roupão.

Teu verso me avizinha
Me acorda a alma
Faz cozquinha
me cobra rima e ação

Enriquece a minha escrita
Coça o pé, (Ô pena bendita!)
Teu verso me dá formigão!

Saio da letargia
Reinvento nova rima
Reconforto o coração.

terça-feira, 28 de agosto de 2012


AUTO-RETRATO
                                (Sandra Pereira)

Trago no rosto um tempo parceiro
Na mente,  indagações constantes
Na alma, uma paz inquieta,
que frente à mentiras, beligera .

Na pele, clarão de dia
No pelo, algumas luzes

No sangue, a rubra mescla
- índia, moura, negra, lusa-
que  assossega, irmana
anseios de paz à teuta luta

lida colona,
luta   de Anita
Sou uma  cabocla germana
Sou sulista!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

É VOCÊ?


(Sandra Pereira)

Alguns vieram,
Me beijaram,
Passaram um tempo,
Mas não ficaram... Porque? Não sei.

Coisa estranha!
A você que eu nunca vi,
Nem beijei,
Sequer abracei, pergunto:

Pelo tanto que te quero...
Hás de ser quem eu espero,
Aquele a quem quero amar e nunca amei?

ARREMEDO DE AMOR


(Sandra Pereira)

Quase alma gêmea!
Prove ao menos, enfim,
O sabor deste verso:
Arremedo de mim.

Quase amor-perfeito!
O tempo corre ligeiro:
Ama do jeito que for!

Quase alma gêmea!
Embala a poesia
Sem medo, nem dor.

Ela sou eu por inteiro
Pura, inocente, indecente, amoral
(tua, afinal!)
Arremedo de amor.

SONHAR É PRECISO


(Sandra Pereira)

Faço questão de tudo:
Pipoca, cinema, bolero,
Da flor que não ganhei,
Ursinho de pelúcia,
Mãos dadas, passeios,
E o primeiro lero-lero.

Dança na chuva
Tipo sessão da tarde,
Bilhetes, e-mails fora de hora,
Teatro, jantar, sem luz, só velas
Depois da missa
Um poema
Rosas (dentro do livro suas pétalas)
Antes rubras, ora amarelas.

Que me venha  um amor assim
Sensível, doce,
Que me leia por inteiro,
Alguém talhado pra mim.

O VENTO E EU


(Sandra Pereira)

Assovia o meu amor
E me chama à janela
Vem rápido e urgente
Me exige a entrega

Esse amor, vento de agora,
É de inverno, mas chegou fora de hora
Errante dos pampas
vem morar na minha rima
me descabela inteira
levanta a saia
e  me grita: já me fui, Catarina!

DÚVIDA


(por Sandra Pereira)

Amo-te pelo que és
Ou pelo que em ti  vejo de mim?
Me surpreendo contigo ou com o quanto, em ti,
Reconheço de mim?

És o elo (que eu julgava perdido!)
Que me levará ao encontro de quem sempre fui?

Não te quero espelho
Mas te quero ponte.

És ponte de fato
Ou apenas mais outro
A sair de cena –mal ensaiada a fala -
A me deixar sozinha,
Presa nesse hiato?

PRA QUANDO ME VIERES


Se um dia me vieres,
Aproxima teu ouvido da minha poesia,
Cerra os lábios, fecha os olhos
Que o falar seja de almas.

Te direi de um amor-renúncia,
Feito todo de inquietude,
Um bolero, uma tanguedia,
Da rotina e amiúdes.

Deixe então que a poesia
(tão vadia quanto a paixão)
Abrace esse amor
E o embale como a um filho.

Apascente a minha alma,
Aos poucos me ponha em calma
Já que não amo assim por gosto.

Feito isso, falada a tormenta,
Podes tocar-me a face, aceito o teu toque,
Podes provar do meu batom
Ouvir minha risada
Falar do meu decote.

A CHUVA É CULPADA


Há um pedaço de mim
-território não ocupado
Esse canto em mim
Só permito à poesia.

Tempos em tempos planto ali
Um verso-semente do amor possível de ser
(o amor que eu queria ter!)

Aquele que só se vê nos livros
Mas que insiste em acender a imaginação
Do mais velho adolescente

...
Hora de cerrar porteiras,
Voltar ao lugar comum.

Mas como ir embora
Se estou aqui sozinha, descuidada,
Sem sombrinha, parada,
Literalmente parada na sua?

Ora, vamos! Me peça que eu fique!
Ademais, sempre chove tanto em Joinville!

VERSO MOLEQUE


Nessa chama que alucina
E ilumina o meu querer,
Dessa chama entro e saio
Bailo e fujo igual menina.

Querer mais fora de hora (oras!)
Que me pega em desatino
Vem moleque, bem menino,
Roubar beijos toda hora.

Me faz festa (mas que bossa!)
Contraria o meu querer e a razão que me avisa:
“Esse verso é um moleque... e te faz  troça!”

DE AMOR IMPOSSÍVEL


O que for possível ser, sejamos nós!
Sejamos só -o agridoce do amor
Aquém da possibilidade de ser.

Sejamos um de fato
(contraponto à forma comum de amar dos normais)
até onde nos for dado ser:
um hiato.

Sejamos, no cruzar de nossas retinas
(raio X das nossas almas), um só pensamento
a eternizar um amor de segundos.
É  o que nos foi dado ser!

E no infinito dessa olhada
(todo amor não é em vão!)
Sejamos um do outro eternamente:
uma bolha de sabão.

Do impossível ao possível sejamos nós,
meio assim, dois irmãos:
o amor que se avizinha e sob protesto teima sê-lo:
um incesto.

E quando esgotado o tempo de amar,
Dissermos nosso habitual adeus
(fomos bem mais que podia!)
Sejamos os dois o que tiver de ser: poesia!

TRANSIÇÃO


(Sandra Pereira)


Caro amigo,
Encheste de luz o meu dia!
Teu menino me trouxe presto,
teu recado em poesia,
E surpresa o  reconheci.

Há sapiência nesse teu tempo presente
de te deixares “em suspenso”, um aposto
ao que será a colheita
em que teus frutos
hão de herdar de ti o gosto.

Porém, não põe de lado o menino
Deixe que te lembre, vez ou outra,
O quanto eram dourados aqueles anos
Pra que sigas acreditando na vida,
No mundo, nas pessoas.

...

Querido amigo, é hora de ir embora
À mulher que sou agora, pedem um colo e um jantar.
Vou partir, mas prometo, volto outra hora
Pra contigo conversar

Com saudades dos nossos tempos, vou ficando por aqui.

QUEDA DE BRAÇO


(Sandra Pereira)


Finjo que vou na direção contrária
Me seduz o eterno mas só aposto
“no amor que houver nessa vida”.

Brinco de ir na direção contrária-
Baile de máscaras para disfarçar a caça
(o mundo masculino me diria devassa!)

Destravo o tambor da bala
Mas apenas brinco de roleta russa:
Amar assim me exige, me custa

Me banho no fio da navalha dessa dúvida: nada assumo... sumo
... mas a ficar só comigo escolho o não-pulo (é claro!) e  - curiosa –
Apenas flerto com o abismo.

A me encharcar de lágrima (outra vez não!)
Só molho o dedinho do pé nessa possibilidade.
A virar todo o pote, relutante provo teu sal e teu açúcar
Assim te tenho na ponta da língua,
Agridoce da dúvida de um quase-amor.

Ah! Mas é tão banal anestesiar os sentimentos,
Viver se defendendo
que inda prefiro brasear a ponta dos dedos
a ficar assistindo passiva a todo esse São João.

PRIMEIRO DES(ENCONTRO)



(Sandra Pereira)


Um forte canto, um gesto franco – primeiro ato!
Minha ironia, um desconforto, antipatia.
Segundo ato: um vil engano, um desacato,
Um mal-me-quer, indignação, antagonia.

Um mau juízo, um sem-perdão, inconformada;
Um “Vergo não!!!”, malcriação e teimosia.
Terceiro ato: o ouvido em ti –eu surpreendida!
Ruminação, eu encantada , porém, fingia.

Ser compreendida, trocar de bem , preocupação.
Eu convertida, muito tocada, porém, ferida
te abri os braços: um “Não fui eu!! Você acredita?”
Silêncio tosco, um desabraço. Condenação!!!

Saiu de cena o olhar carrasco. Parti também!
Desceu o pano. Até um dia, quem sabe! ? Quem?

DE AMOR BORDEAUX


(Sandra Pereira)


Por sobre renda branca
Bandeira de paz inquieta
Mancha rubra, cálice de amor teimoso
Me ofereceu
Rouge, carmim, inteira me esvaio em ti, assim:
Unha, carne, cabelos, pêlos
Sangria em dó maior
Bordeaux só
Bordeaux sou
Bordeaux és
Bordou nós – bordado de rouge retrós
Bordoeu.

AO MOÇO QUE PASSA


(Sandra Pereira)

Ah, essa olhada!
Não há nada que me derrube mais,
nem me ponha em estado de alerta quanto esse teu olhar.

Impossível resistir quanto me vens assim (todo azul)
 – extensão das minhas retinas (dois torpedos),
 como determinado a perpetuar tua presença e marcar o meu dia.

Declaro a mim mesma, urgente, estado de sítio
E vou correndo me guardar.

Só ouso abrir uma fresta pra minha poesia
E, juntas, vamos te espiar na janela
Quando, já distante, te vais desapercebido.
É sempre um acontecimento te ver passar!

DO AVÊSSO


Sandra Pereira)



Como será?
Não será?
Quiçá?

Te assusta a minha rima?
Calma, aquieta o coração!
Vou falar pelo avêsso
Pra continuar amiga:

Não te amo, nem te quero!
É tudo e, tão somente, uma cisma!

CIÚME


(Sandra Pereira)


Beija-flor que à flor o beijo rouba,
Beija a flor que a flor te beija.

Deita à flor um beijo, empresta
Beijo à flor à flor da pele, verga
A flor à tua dança-mestra
- flora em festa, sedução.

Beijo e flor
Flor e beija-flor
(perfeição de amor!)
... não fosse abelha no cio.

Beija-flor beija o mel
(triângulo de amor!! Ai que dor!)
deixa à flor nenhum perfume.
Sobra à flor sabor de fel.

MEU VERSO


(Sandra Pereira)

Meu verso me possui:
me sujeita à pena de destravar gavetas.

Meu verso me faz refém:
sopra as brasas e me deixa em carne viva.

Meu verso me faz pirraça:
chuta lata e chama pra andar na chuva.

Meu verso me faz trapaça:
meu verso me contém!

VOLTANDO AOS MEUS DEZOITO


(Sandra Pereira)

Dizer de um tempo ido
Falar de amor passado
É como brasear os dedos no fogo
Sem o haver tocado.

Chamuscar o coração andejo
nas brasas da última chama
É profanar o que pode ainda ser
É fazer o caminho inverso,
Uma tanguedia, um drama.

Me conformo e dou razão ao tempo
Que me diz que é possível
Transformar um sentimento

E, assim, caro amigo
Te convido a olhar à frente
O que foi sem nunca ter sido
Não pode ser diferente!

Pois o tempo (senhor de tudo)
Manda dizer ao destino
Que se cumpra  (sem ser afoito)
Há quer ser só amizade
Sem sangrar o coração:
É a mais doce maneira
de voltar aos meus dezoito.

VERSO AFLITO

(Sandra Pereira)

Nem sempre o dizer
Diz melhor que um verso escrito.
Falar, melhor não seria,
Pois não me ouviste a agonia,
Só farejaste meu pulso aflito.

Como falar,  tenho escrito,
Não traria lenitivo à minha dor
- e diferença não faria -
Me permito, em poesia, te dizer do meu amor.

O meu verso é livre, solto,
Desconhece o proibido,
Bem menino, pula cercas, invade quintais,
Te leva o recado e volta contrito.

Meu verso-menino
- arauto das minhas paixões -
Por meu coração escolhido
Te faz seresta, ganha as ruas e te sopra no ouvido.

TRÊS IRMÃS


                              (Sandra Pereira)
Poesia, paixão e razão
Saíram de mãos dadas.
Combinaram naquela noite
Te falar ao coração.

Terna uma,
Outra destemperada,
A terceira em vigília cerrada,
Pareciam três irmãs!

Poesia tomou pra si
Te fazer uma seresta:
Convidou a lua à festa,
Abraçou-se à paixão.

A paixão, cega,
Achou que faria te contagiar em euforia
E paixão ao quadrado queria (louca que estava pra te ter!)
... desconsiderou a razão.
           
A razão, decepcionada,
Não se fez de rogada:
irmã mais velha das três,
aplicou às duas um corretivo: resolveu se abster.

Voltaram pra casa caladas,
Todas três
Tão mal amadas
E de mal a  mais não poder.
  
Poesia dormiu triste.
Paixão nem dormiu, arrefeceu.
Razão deu-se por vingada:
Nesse amor mando eu!

Até hoje  as três mal se falam,
Sozinhas, acordam o galo
E a Virgem às seis.

Brigam de facão,
Insistem em viver separadas,
Andam tristes, desassossegadas,
Mas ainda habitam meu coração, as três!

SIM !

                         (por Sandra Pereira)

Sim, ao  ler-te anseio e busco
nos sinais da tua rima
o teu jeito,  o teu rosto
É um jogo de adivinha

que fascina e me incita
para dar-me a conhecer
exercito a escrita
nela vais me entrever

Serei eu a quem procuras?
Serás tu irmão de passo?
Deixarei que nossas rimas
nos respondam. Um abraço!

JORDANA (Acróstico para minha filha)

                                                   (por Sandra Pereira)

Já é tempo
O veio d’água brotado das  entranhas
Rio presente, particular
Decidido, vai em frente
Anda alegre, independente
Nele vai o meu reflexo, minha marca –nossa voz
Anda, canta, refrigera a alma e os pés de quem vive ao seu redor

UM OLHAR SOBRE A ROSA

                                (por Sandra Pereira)
Era uma vez uma rosa
Rosa-espinho
desnuda, sem cuidados,
sem carinho

Por vezes aguada em excesso,
sufocada em seus intentos
-de ser rosa e perfumar todo o passante

Por vezes esquecida,
relegada à estiagem
de seus dias angustiantes

Rosa órfã de mãos amorosas,
substrato em novo solo encontra
-a palavra fértil, seus sons
 a letra hábil, o verso

Seduzida à rima,
nova rosa rebrota em novos tons

sábado, 14 de abril de 2012

SONHOS DESFEITOS – Releitura de Drummond por Rosilda Silva



No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho

Mas, e onde está que não a vejo?
Tão bela e diferente era...
Será que um outro alguém a levou antes de mim?

Nunca me esquecerei...



Sonhava com ela, pequeno talismã
sorria-me quando passava,
pedia, implorava-me pra que a levasse,
mas e o tempo?  Esse já não sobrava.

Com ela poderia ter construído castelos,
amansado feras,
curado intolerâncias.

Mas agora...  só me resta a saudade,
pois no meio do caminho,
falta uma pedra.

domingo, 8 de abril de 2012

SONETO DO MISTÉRIO DE ALMAS por Sandra Pereira





SONETO DO MISTÉRIO DE ALMAS
Alma, sensível choras perda humana.
Alma revolta, inquieto passarinho.
A ti encontra a minh´alma que flana
Alheia faz parada em teu caminho.

Alma querida, assim tão generosa,
Chama de luz, és certa de ciência.
A quem socorro alegre, prestimosa
-mistério travestido em coincidência.

Alma que segue sedenta de amor.
Serei eu a resposta que te acalma?
Serás tu lenitivo à minha dor?
Serei eu tua pequena irmã de alma?

Me pergunta uma voz que não se cala.
Serás tu alma-irmã ou gêmea-alma?



Sandra Pereira

TEU SEGREDO por Rosilda Silva


Teu segredo 

Esse teu cheiro é uma dádiva
Tudo em ti recende a frescor
Não sei se do mar, das flores ou frutos
ou da eterna primavera que carregas em ti,
meu amor.

O que sei, é que mesmo não querendo, marcas passagem
Envolvendo e colorindo até a mais sombria madrugada
me consumindo, me inspirando...

Deixando pelo caminho rastros silenciosos
que roubam de mim a razão,
que pairam sobre todas as coisas
e para os quais, limites não há.

Tens em ti o segredo de tudo,
E esse, nem o vento é capaz de levar
És o presente mais intenso,
Um prazer mais demorado,
Um acorde aveludado
Um despertar que não tem fim

Um perfume que abraça a vida
hospeda na pele os desejos
e acalenta o que há em mim.

Rosilda da Silva